Gus van Sant, Terra Prometida

TERRA PROMETIDA, Promised Land (2012)

3) Gus van Sant, Terra Prometida (Promised Land) – 2012 (2 Novembro)

Com um assinalável conjunto de bons atores (de onde se destaca o protagonista, desempenhado por Matt Damon) e muito bem realizado por Gus van Sant, este filme levanta questões pertinentes e atuais sobre os equilíbrios entre as necessidades de desenvolvimento de um país e a escolha de critérios de atuação em relação às empresas que protagonizam esse desenvolvimento, enfrentando os riscos morais, socio-económicos e ambientais que essa intervenção pode causar, com a tentação do uso de métodos ilícitos, corruptos e manipulativos, em alternativa à possibilidade de escolha da transparência e da verdade.

O representante comercial Steve Butler trabalha numa empresa especializada em extração de gás natural, a Global Crosspower Solutions. Ele e a sua colega Sue são enviados para uma vila do interior da Pennsylvania, onde as pessoas vivem com baixos rendimentos, a fim de convencerem os moradores de que não devem opor-se à chegada da empresa, usando o argumento de que todos poderão ganhar muito dinheiro com a extracção do gás. Porém, um professor reformado, Frank Yates, levanta o problema dos riscos de contaminação da água e dos terrenos que a forma de extracção do gás (chamada “fraturação hidráulica”) pode acarretar, riscos esses que serão posteriormente confirmados pela chegada de um ambientalista, Dustin Noble, que acusa a Global de ter envenenado diversas terras noutras localidades.

O filme centra-se na figura do protagonista, Steve, que está determinado a obter bons resultados, embora saiba que não tem todas as respostas e que não pode garantir a ausência de riscos. Além disso, Steve não hesita em corromper a autoridade local e iludir algumas pessoas menos informadas e necessitadas de dinheiro, a fim de ganhar adeptos para a sua causa. À medida que a tensão aumenta, com a concorrência de Dustin, Steve vai ter de confrontar-se com a sua posição e com os seus métodos, dando-se conta do conflito entre a sua ambição profissional e a sua própria consciência. No momento em que toma conhecimento da deslealdade de Dustin e da implicação da Global numa jogada desonesta, Steve toma a decisão justa, decidindo contar a verdade a toda a vila, apesar das consequências pessoais que isso lhe traz.

Com uma narrativa fluida, natural e cativante, excelentes diálogos e alguns grandes planos de rostos (para que o espectador possa olhar nos olhos aqueles que se confrontam com a alternativa entre deixar-se, ou não deixar-se, comprar), este filme põe em cena, com grande realismo e atualidade, as situações onde o ganho económico pode corromper e sobrepor-se à justiça social, à verdade e ao bem comum, e a possibilidade que a liberdade e a responsabilidade pessoal sempre têm de optar pelo verdadeiro.