4) Mel Gibson, O herói de Hacksaw Ridge (Hacksaw Ridge) – 2016 (9 Novembro)
Baseado numa história real, o filme narra a extraordinária atuação de Desmond Doss (desempenhado por Andrew Garfield) durante a segunda guerra mundial, o primeiro homem na história dos EUA a receber uma medalha de honra sem ter disparado um único tiro, tendo salvo milagrosamente 75 feridos da morte certa. A narrativa abre com terríveis cenas de guerra, que irão repetir-se ao longo de duas horas, por vezes de forma quase insuportável, mas tendo a vantagem de evitar que um filme a favor da paz possa tornar-se, indireta e involuntariamente, na glorificação romantizada do drama da guerra.
Desmond Doss é um jovem oriundo de uma família marcada pela violência de um pai viciado em álcool e traumatizado pela perda, durante a primeira guerra mundial, dos amigos mais próximos, bem como pela morte recente de um dos seus filhos. Desmond experimenta, assim, o potencial de mal que existe em cada ser humano, e percebe que ninguém está livre de cometer o ato mais terrível contra o seu semelhante. Esta consciência do próprio pecado e a profunda fé religiosa que tem, enquanto adventista do 7º dia, levam-no a prometer a si próprio e diante de Deus nunca usar uma arma contra ninguém. Mesmo assim alista-se no exército, porque quer servir o seu país como socorrista, decisão que irá provocar a chacota dos companheiros, que o consideram cobarde, e a injusta perseguição dos superiores, chegando a ter de apresentar-se em tribunal, aceitando o risco de ver posto em causa tudo o que lhe era mais querido.
Resolvida a questão formal, por estar consagrada, na lei dos EUA, o direito à objeção de consciência, Desmond – entretanto casado com a enfermeira Dorothy, que conhecera antes de alistar-se – toma parte na terrível batalha de Okinawa, no penhasco de Hacksaw, contra os japoneses. É no palco da guerra que se revela decisiva a fidelidade a tudo aquilo que afirmara a si próprio, aos outros e a Deus, e Desmond arrisca a própria vida para salvar os companheiros, enquanto implora: “Por favor, Senhor, ajuda-me a trazer mais um”. O número inacreditável de vidas salvas pelas suas mãos atesta a verdade da oração ouvida no início, em “off”: “Aqueles que confiam no Senhor renovam as suas forças, voam com asas como as águias, correm sem se cansar, caminham sem desfalecer”.
Longe do pacifismo puramente ideológico, que é tendencialmente irrealista e incapaz de defender valores maiores, esta história verídica protagonizada por um homem modesto e corajoso, com uma fé não dualista mas antes enraizada no seu concreto modo de viver, afirma o valor absoluto da paz, que por vezes pode tomar a forma da batalha, e revela como a origem dessa paz está, antes de mais, no coração de cada pessoa.